A responsabilidade social (RS) tornou-se um fenômeno organizacional ao surgir das discussões sobre novas perspectivas de desenvolvimento propostas por organismos internacionais, que consolidaram uma nova demanda a nível global para as organizações, e da pressão popular para que as empresas assumissem o compromisso de trabalhar também pelo desenvolvimento social e não apenas econômico.
Do outro lado, a face estratégica que a RS assume ao refletir retorno e legitimidade para a gestão de organizações que buscam se humanizar ao imprimir a imagem socialmente responsável, também foi um importante fator para o seu crescimento nas organizações. Esse uso da responsabilidade social, a princípio, de natureza utilitarista, teve um aumento significativo no Brasil no início dos anos 2000 – tardiamente quando comparado aos EUA e Europa.
Foi nessa década que vimos a difusão e popularização da responsabilidade social nas organizações e a sua institucionalização. Assim, as grandes empresas adotaram e publicaram programas e relatórios de responsabilidade social como boas práticas e as pesquisas acadêmicas voltaram-se para a investigação desse movimento tão forte que o Brasil vivia.
Embora com muitas controversas sobre seus usos, a responsabilidade social pode ser vista como um fenômeno em construção, pois não se descarta sua importância. Passados vinte anos, conseguimos observar o comportamento desse fenômeno, desde o surgimento, até às suas ressignificações. Aos poucos, a responsabilidade social foi substituída pela sustentabilidade, que arraigou-se ganhando a predileção de empresas e pessoas da sociedade civil.
Entendemos a sustentabilidade como outro fenômeno de gestão, ao perceber que existe uma pressão social e mimética, ou seja, uma prática comum entre as empresas que impõe um comportamento a todo o mercado. Neste sentido, a nova e mais abrangente proposta busca tratar do desafio de conseguir uma boa atuação nos campos ambiental, econômico e finalmente, o social. A responsabilidade social não é completamente esquecida, mas incorporada ao novo conceito, especialmente na intersecção entre as esferas social e ambiental.
A amplitude do novo conceito, também passou a considerar novas terminologias para um mesmo fenômeno, como o de responsabilidade socioambiental, responsabilidade corporativa, dentre outros; e novas metodologias e agendas, como a Química Verde, os ODS (Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável), ESG (Environmental, Social and Governance), cujos usos se apresentam em áreas e mercados específicos nas organizações.
Ainda com seus paradigmas, por se tratar de fenômenos relativamente novos e em construção, podemos apontar que muitas ações em sustentabilidade ainda apresentam respostas desacopladas da totalidade do seu conceito, como por exemplo, ao observar que muitas empresas não possuem gerência, setor e investimentos internos em sustentabilidade; ou apresentam, em muitos casos, ações e programas apoiada apenas na imagem e no retorno, fortalecendo apenas a esfera econômica do importante modelo.
Neste cenário, é possível perceber que as denominações dos programas e ações mudam conforme o modismo e aquilo que está mais em voga, mas as práticas internas ainda refletem ações superficiais e programas pouco efetivos quando relacionados ao conceito de sustentabilidade, porém não se descarta sua importância.
Por fim, ressaltamos a necessidade de um aprofundamento das ações e programas relacionados a essa pauta para garantirmos a manutenção do desenvolvimento econômico e social de modo sustentável, uma vez que o fenômeno tem se tornado parte de uma agenda de desenvolvimento global, cujas inovações (sejam elas tecnológicas, mas principalmente as sociais e ambientais) farão parte do cenário competitivo internacional nos próximos anos.
Sobre o autor
Leonardo Petrilli é graduado em Administração (PUC-Campinas, 2011), Especialista em Gestão de Organizações e Recursos Humanos (UFSCar, 2013), Mestre em Engenharia de Produção – Linha de Pesquisa: Instituições, Organizações e Trabalho – IOT (UFSCar, 2016). Professor Efetivo do curso de Administração da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). Coordenador de projetos de pesquisa e extensão voltados ao estudo de fatores sociais nas empresas e o fenômeno da sustentabilidade. Concentração de pesquisa na área de Sustentabilidade e Responsabilidade Social. Ministra disciplinas de Responsabilidade Social, Economia Solidária, Governança Corporativa, Gestão Ambiental, Teoria das Organizações e Fundamentos da Administração.